domingo, 6 de maio de 2018

Emoção, identidade e descobertas através da arte.

PROJETO DE ENSINO

Auto retrato e identidade
Como promover através das artes visuais a contemplação e um contato mais intimo com seu “eu Maior” através das mídias tecnológicas simples, colagem e exposição.
Uma caminho para o inicio de um mergulho dentro de si.

Sete trabalhos como resultado de um mergulho no fazer com reflexão.
Foto: Jidduks
Foi emocionante encontrar velhos novos amigos na biblioteca do teatro municipal de Cabo Frio, Inah de Azevedo Mureb, no dia 29 de abril, em um domingo ensolarado. Vivenciamos um momento muito especial que só a arte proporciona. Um belo bate papo, regado a muito trabalho e descobertas com a
Nathally Amariá - Trabalho de
Conclusão de curso - Foto: Jidduks
formanda em Artes Visuais, Nathally Amariá. A vida é cheia de descobertas e a arte é fruto de estudos e vivências que acontecem quando a gente menos imagina.
A ideia de pegar a própria auto imagem a partir de uma selfie e construir um auto-olhar não sem antes narrar, para os colegas, a experiência de vida de cada participante,  que contou fatos relevantes e não tão importantes de suas vidas, para, em seguida, mergulhar o olhar e a sensibilidade na confecção de um trabalho visual com o próprio auto retrato.
Foi um omento de forte emoção, tudo fluiu, e o reencontro da memória tornou-se fato entre as pessoas presentes, momentos que só podem ser descritos a partir das própria imagens geradas nesta vivência tão bonita, como desdobramento do trabalho de conclusão de curso em Artes Visuais pela UNOPAR, 2018.

Nathally Amariá com Kéren-hapuk, Jidduks, Andreza, Israel, Harley
e Manu Ellon - 2018.
Os trabalhos realizados pelos participantes, serão expostos no Varal do Beijo, do Cine Mosquito 76, dia 10 de maio, no espaço cultural USIN4, sem duvida, um grande momento. Um mergulho que estará acontecendo juntamente com a tradição cineclubista do Cine Mosquito, um evento que traz as artes visuais como ponto focal da discussão artística em Cabo Frio, no momento.

(Jidduks)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Alguns vídeos sobre Van Gogh.

Se você curte Van Gogh, que tal apreciar alguns vídeos que recomendamos aqui? Depois de uma espiada no youtube, vi muita coisa boa por lá e compartilho com vocês algumas coisas que pode interessar de verdade. Segue, com amor...

Uma reportagem sobre o filme "Loving Vincent", sucesso garantido.




Um resumo bem divertido feito por uma dupla ultra simpática.



Um vídeo para visualizar os últimos trabalhos de Van Gogh, ouvindo o delicioso
bolero de Ravel.


A belíssima música de Don McLean com fotos do ator Rafael Mannheimer, fotografado por
diversos fotógrafos. 



Se estiver pelo Rio de Janeiro, dia 19 de Janeiro, aproveite para assistir algumas cenas de espetáculo "Van Gogh - O Último Delírio", com o ator Rafael Mannheimer e aproveite para um bate papo com o autor e diretor da peça Jiddu Saldanha. Confira todos os dados no banner abaixo, e seja feliz com Vincent Van Gogh, em 2018.





terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Varal do Beijo: Uma história de amor e arte.

Desde que surgiu, em 2013, nos bastidores do OFICENA - Curso Livre de Teatro de Cabo Frio, o "Varal do Beijo" começou apenas com a intenção de mostrar os trabalhos de estudantes de teatro, que gostavam de desenhar e pintar. Foi uma iniciativa quase tímida da jovem Nathally Amariá.  Ela se aproximava das pessoas e perguntava se queriam pendurar alguma arte para mostrar para o público, hoje, 4 anos depois, o "Varal do Beijo" é uma sensação na cidade. Atrai novos artistas e contribui para a renovação das artes visuais local.

*

Nathally Amariá no trabalho de manusear e escolher obras 
de arte com o carinho de quem ama o que faz e prestigia os 
artistas locais.  Foto: Jidduks
A ideia foi ganhando força e ficando cada vez mais sofisticada, ao ponto de, quando não tinha, alguém, sugeria fazer rapidamente, nem que fosse pra constar. Aos poucos a ideia foi pegando. Os artistas visuais foram aparecendo, para dar corpo e energia ao novo espaço para exposições alternativas e itinerante de Cabo Frio.
No final de 2014, o "Varal" começou a ser esticado sempre que tinha uma sessão do Cine Mosquito, no início, na Casa Scliar, que tem um imenso corredor, quase um túnel, por onde era possível esticar uma bela corta, preder com grampos e encher de obras de arte. Os artistas da cidade foram ficando mais interessados e começaram a trazer seus trabalhos de forma mais regular, sempre tinha alguém querendo participar daquele acontecimento artístico, e, com o passar do tempo, Nathally percebeu que tinha uma grande "questão de arte", nas mãos. Um suporte para exposição, uma forma de ampliar e juntar forças com novos e velhos artistas da cidade.
O compromisso com o varal se consolidou quando a jovem resolveu estudar Artes Visuais na UNOPAR, curso que irá concluir em 2018. O percurso pela faculdade de artes lhe ofereceu não só, uma ampliação no olhar, mas também, um mergulho profundo no fazer artístico e, aos poucos, deslocou parte de sua atividade artística para "cuidar" dos artistas visuais de Cabo Frio e região, principalmente os de sua geração, para oferecer a todos, uma singela interlocução entre seu trabalho e o público. Ela passou a executar essa atividade com frequência, no "Cine Mosquito", um cineclube peculiar, que completa 10 anos em 2018 e que é o principal acolhedor do "Varal do Beijo".
Foi durante as sessões de cineclubismo que as idéias floresceram, até surgir um forte impulso em colocar, de forma mais agressiva, os artistas para expor, não só em coletivas, mas também, em individuais. A ideia floresceu em março de 2016, o primeiro Cine Mosquito realizado no espaço USINA4, lugar que acolheu com vigor, todo o esplendor criativo e ousado da jovem cabofriense, que, tinha então, 21 anos de idade. 
Hoje, o Varal do Beijo, com 4 aos de existência, promete fazer muito mais pela arte, expondo artistas que queiram aceitar o desafio de mostrar sua arte num varal que é a cara da cidade. Simples mas sofisticado, atraente para olhares atentos, gulosos e apaixonados por arte. Um encontro que faz do desenho e a pintura, uma energia a mais para ser compartilhada com os amantes da arte.
O Varal artístico é uma velha tradição medieval das artes, surgiu muito antes dos salões de exposições, era uma forma da arte ganhar as praças e chegar até as populações, em feiras de objetos e comestíveis. Sua história remonta a velha china e hoje é uma ideia difundida no mundo todo, espaço que facilita o trânsito do olhar e ajuda a construir um painel narrativo e visual da vida artística dos nossos dias.

*

Acompanhe abaixo, os artistas que ganharam exposições individuais no "Varal do Beijo" e, se você é artista e está lendo esta matéria, não deixe sua arte criando poeira em casa, exponha, mostre seu trabalho e deixe a vida acontecer, no olhar das pessoas que amam a arte. Você pode ajudar a contar essa história, basta criar coragem e sair do anonimato.
SUA ARTE PODE VIRAR BEIJO!


Átila Jorge.


Atila Jorge, desenhos de artistas e nus, no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 69, 73 e no "Clube do Teatro Terceira Edição" foto: Jidduks e Ricardo Schmith.
Layla e Nina.
Layla e Nina, "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 66. Irmãs com traços diferentes, numa poesia que
encontra a essência visual de cada uma delas.
Foto: Jidduks
Lorena Benevenuto.
lorena Benevenuto, alem de expor no "Varal do Beijo", quando ainda era uma ideia em exercício, foi uma das principais
divulgadora do conceito perante os artistas da cidade, até fazer sua individual no Cine Mosquito 61, em 2016.
Foto: Jidduks
Jiddu Saldanha.
Jiddu Saldanha - Foi convidado para as primeiras coletivas do "Varal do Beijo" e no Cine Mosquito 68, ganhou sua primeira
individual. Foto: Nathally e Marcos Souza.
Brena Lima.

Brena Lima, investigando o nu feminino, exposição no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 72. Foto: Ricardo Schmith
Marcelo Tosta.
Marcelo Tosta ganhou uma individual no "Varal do Beijo" do FesTSolos IV, em 2017, com otima visualização de seu trabalho tocante. Foto: Jidduks.

Rapha Ferreira.





Rapha ferreira, artista contundente, teve sua estréia no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 60. É também um pioneiro,
sempre expôs, quando ainda eram coletivas. Foto: Jidduks
Rico Coutinho.
Rico Coutinho, impessionou, no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 71 - Foto: Jidduks
Tainá Alves.
Tainá Alves, puro encantamento e muita expressão de arte no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 63.

Sanderson Lucas.

Sanderson Lucas e sua arte "psicodelizada" no "Varal do Beijo" do Cine Mosquito 65. Foto: Jidduks
Curta este vídeo feito pelo projeto cinema possível, sobre o Sanderson.


Jiddu Saldanha - Blogueiro - Cabo Frio - 2017.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Van Gogh - O Último Delírio. Versão acompanhada de bate papo com o ator Rafael Mannheimer.

Texto e Direção - Jiddu Saldanha / Duração 25 minutos.
Atuação: Rafael Mannheimer.

Foto: Jidduks
A ideia básica da encenação de "O Último Delírio de Van Gogh" consiste em exprimir, através da sensibilidade do ator Rafael Mainnheimer a extrema pulsação do Van Gogh mítico que é detentor de todo um inconsciente coletivo do mundo ocidental, tornando-se algo/alguém, muito maior que sua própria vida. Investiga-lo como um fenômeno existencial e artístico só será possível, se criarmos uma imagem atemporal através da arte do teatro.
Para chegar a este "lugar" do sentir e perceber Van Gogh, Jiddu Saldanha, diretor e autor do texto, preocupou-se, principalmente, em criar um ambiente "ritual-Cênico" focado numa espécie de "xamanismo artístico"; daí a figura crucial do ator Rafael Mannheimer, escolhido entre tantos outros candidatos, pra viver um Van Gogh que vai além das especulações históricas.
Criou-se a estilização de um ambiente "vangoghiano" por excelência, onde os detalhes da cena busca, para além do uso de técnicas teatrais, uma essência que se pauta na qualidade de interpretação do ator,  principalmente no que tange à vocalização do texto e no mergulho de expressões que vão buscar no estudo da "mímica livre", da pintura, da dança e do xamanismo, um corpo que se engaje no Van Gogh  imaginário.
Para que pudéssemos trazer à luz, esta montagem teatral, foi necessário buscar no olhar da diretora de arte Alexandra Arakawa, a concepção de um ambiente cenográfico e de  figurinos pintados pelo artista plástico Duda Simões, onde as cores e os traços de Van Gogh-Duda, deverão ser o eixo da expressão total do espetáculo.

FICHA  TÉCNICA
Texto e Direção - Jiddu Saldanha / Ator - Rafael Mannheimer
Direção de Arte - Alexandra Arakawa / Direção Assistente - Nathally Amariá Pintura de figurino e arte gráfica - Duda Simões
Produção - Cia de Artes EM CriAção

Veja o videofoto de Rafael Mannheimer com a música famosa de Don McLean...



domingo, 1 de outubro de 2017

O Último Delírio de Van Gogh!


Meu texto, o último delírio de Van Gogh, ganhou uma bela montagem, numa versão curta, com o ator Rafael Mannheimer, para alegria do teatro carioca. No entanto, segue aqui o texto, recheado com fotos do ator, feitas pelo fotógrafo Marcello Vale, com figurino customizado pelo artista visual Duda Simões, supervisionado pela diretora de arte Alexandra Arakawa... Vamos de Van Gogh?



SINOPSE
Sozinho, num quarto frio, Van Gogh, recebe a notícia de que seu irmão, Theo só vendeu um único quadro seu. Delirante, com fome, com frio e sentindo-se completamente nu e desprotegido, Van Gogh tem um surto de depressão. Ele mergulha fundo em si mesmo, buscando uma razão para ressurgir das Cinzas.

CENÁRIO
Foto: Marcelo Valle
Apenas um cavalete de pintura, alguns pincéis e um quadro mal acabado que só aparece de lado para o público. Uma mesa no meio do palco, com um bule de café e umas xícaras. Um cesto de frutas, bem arranjado...

FIGURINO
Considerando que a cena é um delírio, deixo ao diretor a discussão sobre como a peça será abordada. Minha sugestão é que o figurino seja uma releitura pós-moderna da figura de Van Gogh, respeitando apenas alguns signos que o conecte com a essência vangoghiana.

CENA I
(Abre o pano, um auto retrato de Van Gogh é a primeira imagem que o público vê.  Van Gogh salta de dentro da tela, criando vida, em seguida, inicia uma conversa com seu irmão, Theo. Mas a figura de Theo é totalmente invisível para o público, ja Van Gogh, parece comunicar-se com o irmão e, durante este processo, a figura imaginaria de Theo, hora parece estar longe, outras vezes parece materializar-se, mas tudo como se fosse um grande surto).

Van Gogh - Theo, meu irmão, se eu fosse escrever uma nova carta agora, te contaria este sonho. Sabe quando você pensa que está acordado, mas na verdade, está dormindo? Foi bem isso que aconteceu comigo a alguns instantes. Eu tive um sonho bem suave e bastante bom. Acho que o criador me deu de presente, este momento, de maneira que acordei relaxado e tranquilo. Ouvindo apenas o silêncio dessa manhã. Parece que alguém caminhava no sótão, e o barulho das tábuas eram escandalosos e faziam uma espécie de acompanhamento musical para meu sonho. Então, foi como se eu saísse pela chaminé e pairasse numa grande sala, no céu, feita só de nuvens. Eu fui parar nos cantos e contemplei, com meu olhar milimétrico, cada espaço, cada lugar, desta "sala de nuvens".
É isso, Theo, você não tem ideia de como é bom minha alma habitar meu ser, morar dentro de mim e, com esses olhos, poder ver as coisas que eu vejo. Eu sei que sou um anjo. Sou um anjo que habita meu próprio corpo, mas quando me concentro, posso viajar pelas nuvens. Elas ficam bem sólidas e eu posso até pisar nelas. Com certeza não caio, e eu posso até me equilibrar por elas e ver, de lá de cima, tudo o que há de mais belo. Em seguida, meu corpo atravessa a amplidão e começo a pintar, na minha imaginação, tudo o que vejo. Theo, eu vejo um mundo cheio de cores, de luz. Outro dia, andei a esmo pelo vilarejo e, roubei, com meus olhos, uma cesta cheia de frutas. Minha alma foi até a cesta,  e eu reparei que estavam maduras. Bem maduras. Um mamão bem doce, uma maçã verde, uma pera e um pedaço de mamão cortado. Aquilo ficou na minha mente e parece que desceu pelo meu corpo, sabe? Foi percorrendo minha pele e ficando tatuada no espaço. Parecia uma forma concreta, uma espécie de escultura e tudo tão nítido. (Muda bruscamente de expressão)!

Foto: Marcelo Valle
Em? O que você disse? Como foi que eu percebi que o mamão estava doce? Não, Theo, claro que não, de maneira alguma, comer aquele mamão seria um ato de canibalismo, entende? Não... não... não Theo, eu não comeria aquele mamão, jamais comeria aquele mamão. Porque você está falando assim comigo? (Tem uma crise convulsiva). Pare, pare por favor, aquele mamão cortado doce era doce muito doce eu sei que era, você tem que parar de me desmentir. Pois então eu vou te falar a verdade (faz ar de suspense). Eu pintei, eu pintei sim... pintei aquela natureza morta porque ela estava viva... eu a vi de uma janela (grita e chora) ela era tudo naquele momento. É assim que eu sou, foi isso que eu vi, foi isso que eu senti. Ninguém pode dizer que não vi, porque eu vi, porque eu vejo. É isso, eu vejo um mundo que escorre pelos meus dedos, tudo parece fugir de mim, no entanto eu posso te dizer, que, de fato, tive um sono especial hoje. Fui levado para o céu, para um quarto de nuvens. Minha alma, habitava meu corpo de uma outra forma, ela queria se expandir, explodir, saltar para fora de mim, Theo, você não imagina o quanto isso me faz viver, pulsar, criar... borrar a tela, jogar tinta e mais tinta sobre tinta, preencher cada espaço deste céu na tela branca...
Mas eu preciso te lembrar uma coisa, algo que ficou estranho, enquanto eu sonhava. Era
Foto: Marcelo Valle.
eu? Não era eu? Sinto um desespero ao te narrar esta cena agora e ainda não sei se vou colocar isso numa carta. Eu estou muito cansado. Estou morto de medo, porque eu só queria mesmo é o direito a este descanso, para sempre. Poder ir para o céu e passear nas nuvens. Eu estou completamente sem chão aqui na terra! Você sabe do que estou falando. Eles sabem do que estou falando, todos sabem o que estou falando. Apenas eu não sei. Porque sou guiado por uma força dentro de mim, que não controlo. Ela apenas manifesta minha dor e minha criação, mas não diz nada para mim. É isso, ela diz de mim mas não diz para mim. (pausa) Então, eu me calo, eu fico taciturno, pensativo. Fico em silêncio e fumo meu cachimbo o tempo todo. O gosto de tabaco na boca, é o gosto que me resta, desta vida e eu, eu, Theo, não sei para onde estou indo. Não sei onde vou parar, não sei o que está acontecendo comigo enquanto tento te explicar, nesta carta que não irei escrever. São momentos da vida que a gente sabe que está vivo mas não sabe se tem uma vida pra viver. Você me entende? Porque tudo é tão passageiro e tudo está passando tão rápido. Eu adormeço e acordo todos os dias, aí eu pinto um novo quadro, eu fico debruçado no meu mundo de cores, eu fico sentindo dor nos ossos, frio, muito frio e aí eu te pergunto. Faz sentido tudo isso? Eu vou sobreviver a isso?

Foto: Marcelo Valle.

CENA II
Van Gogh parece ter certeza de que seu irmão, Theo, está mesmo presente e começa a falar com ele como se sua imaginação realmente o percebesse de forma bem real, apenas para ele, não para o público. A cena toda precisa ter um caráter Onírico e um grande delírio que mistura o poético e o psiquiátrico).

Van Gogh - Tantas vezes escrevi pra você Théo, tantas vezes, veja aquele azul, veja aquele azul. O azul nunca foi a minha cor preferida eu nunca quis ficar mutilado assim, foi surto criativo. Tudo o que fiz até aqui, não passou de surto criativo... Eu sou mais do que isso... Eles não entendem a criação... Os empresários só falam de dinheiro, de valores, de quanto custa, mas a criação, Theo, a criação é algo divino.. (Pausa) Não... não... não falo de Deus, falo de mim, da minha alma conturbada do meu coração, essa fonte por onde jorra essa maldita cor AZUL. Mas eles não entendem isso, Theo, queime esses quadros, queime tudo! O meu azul não pode ser contaminado por esta ganância... todo o dinheiro do mundo não pode comprar meu azul...
*
Eu não quero mais pintar assim, eu quero apenas ver, sentir, eu quero estar dentro disso, porque é dentro disso que eu me vejo luz, eu quero algo que dialogue com a minha víscera, entende? Eu quero ser Van Gogh, eu não quero ser aquele que todo mundo conhece, eu quero ser apenas Van Gogh! (Abre uma gaveta e tira vários retratos quebrados e fotografias velhas, enquanto olha, vê uma foto de Gaugin).
Gaugin, Gaugin... saia daqui com este seu amarelo.
Eu sou único, só existo porque sou azul...  mas eu não quero o azul e esse amarelo é meu, entendeu bem? Ele é só meu, você está apagando meu olhar. Não aguento mais te ver na minha frente. Eu juro que vou incendiar tudo e vai ser agora.... (Corre pela sala com uma caixa de fósforos na mão, em seguida, para e pensa na navalha)... a navalha, cadê minha navalha? Eu quero fazer a barba... minha barba, minha navalha! Eu não quero o azul, eu não quero o amarelo de Gaugin. (solta um grito quase mudo, mas que expressa profunda dor) Theo, Theo, Theo... eles ficam rindo de mim, Theo, todo mundo fala que só vendi um quadro. É assim que falam de mim, todos os dias eu por toda a eternidade eu ouço essa estranha voz que me chama de fracassado! Eu não aguento mais! Onde está o absinto? Eu quero beber eu vou beber... (encontra a garrafa completamente vazia e leva um longo tempo para sentir um único gole pingar na sua língua).
*
Os Franceses estão sempre falando mal de mim, Theo. Paris não significa nada, aqui é muito cinza, a bebida é ruim as prostitutas são só bonitas  e mais nada. São peças de decoração pra você enfeitar a solidão. Isto é Paris, essa é a vida que eu levo... mas Gaugin, não, ele não presta, ele é mentiroso, ele não paga as despesas e está sempre brigando comigo. (dá um grito como se tivesse chamando por Gaugin). Gaugin? Gaugin? (pausa) tá vendo? Ele me ignora. Finge que tá dormindo só pra não falar comigo. Ele tem inveja dos meus quadros. Ele inveja meu Azul, eu sei que inveja porque ele nunca usa o azul em seus quadros (dá uma forte gargalhada). Mas eu não tenho medo dele, eu coloco quanto amarelo quiser, eu odeio o amarelo de Gaugin. Aquilo pra mim é um verde limão disfarçado... (começa a chorar com saudade de Gaugin).
Theo, Gaugin foi embora, Theo... me deixou aqui, sozinho. Cadê minha navalha, eu quero
Foto: Marcelo Valle.
fazer a barba. Eu quero fazer a barba (Coloca uma bacia com água sobre a mesa e faz um ritual, como se tivesse cortando a própria orelha até soltar um grito estridente).
Miséria, é isso o que sinto, a miséria da vida, do mundo, das pessoas. Eu não sei mais o que é a alegria de pintar e mesmo assim eu borro a tela com minha solidão, meu medo, minha dor e meu sangue. (Esfrega o sangue da orelha sobre a tela. Para e olha por um longo tempo e começa a sorrir, parece uma criança feliz).
O vermelho, o vermelho. Porque eu ignorei esta cor por tanto tempo. Ela é linda, ela combina com o que está dentro de mim. É assim que eu sou, eu sou tudo isso, eu sou essa força. Eu sou essa fragilidade. Eu sou essa verdade. Eu sou essa mentira. Eu sou essa merda toda, esse húmus plantado no universo de tudo. Eu sou tudo, eu sou a flor do desespero, eu sou a cor de todos os delírios, eu sou a força do dragão, a luz da escuridão, a eternidade, o efêmero, o passado o futuro, eu sou a arte... eu sou arte...  (Abre a cômoda e pega um revólver) eu... eu... sou... Van Gogh. (aponta a arma para o coração).

PANO

Jiddu Saldanha
Cabo Frio - 2015 / 2017.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

SOPA - A Performance. TCC - Teatro Cabofriense de Comédia - nova fase.

O desenvolvimento da linguagem cênica, passa por olhares diversos, que não só, e, apenas, o olhar cênico tradicional. O teatro, como o cinema e tantas outras formas de manifestação artística, são olhares e nada mais. No caso de Cabo Frio, olhares que perpassam a URBE-PRAIANA, essa profundidade abissal de formas que se transformam, conforme a cidade mergulha em seu próprio caos. Afunda e emerge, ao mesmo tempo, criando uma espécie de ciranda das essências.
Este é o material dispendido na linguagem da performance "SOPA" que estreou no Centro Cultural Lagos, nas Palmeiras - Cabo Frio, no show da cantora Sarah Dhy, dia 29 de abril de 2017, interpretando a música "Infinito Particular" de Maris Monte. 
O trabalho, desenvolvido pela atriz e estudante de artes visuais, Nathally Amairá, foi repetido no Cine Mosquito 65, dia. A concepção básica deste trabalho é para espaços onde a treatralidade, muito mais que constituída, é construída, em função do ambiente onde a proposta se desenvolve. Com "direção conceitual" de Jiddu Saldanha, é um trabalho cuja visibilidade se constrói, a partir da relação entre atriz, espaço, e platéia, para, assim, fazer brotar o momento cênico.

Sopa - A Performance 
Atuação conceitual - Nathally Amariá Andrade
Direção conceitual - JIddu Jiddu Saldanha
Realização: TCC - Teatro Cabofriense de Comédia 
Música: Infinito Particular - Marisa Monte 
Foto: jidduks
Estreia - No Centro Cultural Lagos - Cabo Frio / RJ

Sopa - A Performance 
 Atuação conceitual - Nathally Amariá Andrade
Direção conceitual - JIddu Jiddu Saldanha
Realização: TCC - Teatro Cabofriense de Comédia 
Música: Infinito Particular - Marisa Monte 
Foto: jidduks
Estreia - No Centro Cultural Lagos - Cabo Frio / RJ

sábado, 22 de abril de 2017

Sanderson Lucas - Nômade em sua própria morada!

Por Jiddu Saldanha, blogueiro
www.jiddusaldanha.com.br 

Na praça ao lado do Teatro Municipal, 
Sanderson mostra sua 
produção, enquanto vai contando 
a história de cada uma delas! 
Foto:Jidduks
Caminho pelas ruas e praças de Cabo Frio e vejo a bela luz de uma cidade praiana, castigada pela política cruel dos "coronéis". Mas no meio disso tudo, um herói anônimo, circula pelas praças. Sua arma não é o escudo do capitão america, tão  pouco o martelo de thor. Sanderson carrega um arsenal diferente: Canetas coloridas, Giz de Cêra, Carvão e papel, muito papel, onde produz sua arte, sua obra e onde reinventa sua vida cotidiana. 
Nômade, ele diz que seu lugar preferido é a praça porto rocha: "Eu não consigo pintar e nem desenhar em casa, faço tudo em movimento, andando pelas ruas da cidade e, no final, sempre vou parar na praça Porto Rocha". É ali que ele expõe e vende seu trabalho, mas também circula pela cidade e mostra de forma direta, seus trabalhos que, vão, aos poucos, encantando os turistas e os cabofrienses. A liberdade de um artista criativo, um poeta do olhar, um guerreiro das tintas. 





Sanderson mostra seu trabalho para a jovem atriz e produtora, Madu.

Imagens belas que ajudam a construir uma imagem do artista e seu olhar!

Veja o filme e curta a arte de Sanderson Lucas, um artista nômade!